segunda-feira, 5 de março de 2012

Ex-catadora de lata, Adelaide Castro

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Adelaide Castro ainda é um rosto desconhecido do público. Na verdade, a mocinha de 18 anos era mais uma anônima em busca de um lugar no mundo até três meses atrás, quando desbancou quase três mil candidatos para atuar em “Clandestinos”. A peça foi escrita e dirigida por João Falcão, que revelou nomes como Lázaro Ramos e Wagner Moura. Em vez da Bahia, Adelaide saiu de Três Corações, no interior de Minas Gerais. O teatro entrou há cinco anos na vida da jovem através do Pedalarte, um projeto de erradicação do trabalho infantil (assista ao vídeo com trechos da peça).
— Eu catava latinha para ajudar no sustento dos meus oito irmãos — conta ela, que faturava apenas R$ 10 por fim de semana.
No projeto, coordenado pelo produtor cultural Braz Chediak, Adelaide se apaixonou pelos palcos e pelo saxofone, que tocava até em enterros na cidade.
— Era quase todo fim de semana. Triste, né? Mas, se queriam, a gente tocava — conta ela, rindo da própria constatação.
Foi com a prática adquirida nos funerais que Adelaide arrematou a vaga na peça carioca, em que 14 jovens buscam seus sonhos:
— O meu é ver a Orquestra Sinfônica tocar no Municipal. Enquanto esse dia não chega, Adelaide vai sonhando mais alto: — Quem sabe não viro um Lázaro Ramos?
Adelaide ainda não se acostumou ao caos urbano do Rio de Janeiro. Até agora, não conseguiu conhecer os pontos turísticos e só saiu da Tijuca, onde está morando, para raros passeios ou trabalhos. Numa figuração acabou conhecendo o Piscinão de Ramos:
- Também já vi o Cristo assim de longe _ diz a estreante.
Em Três Corações, a rotina de Adelaide consistia em sair de casa cedo para cursar o terceiro ano do segundo grau, freqüentar o curso de teatro e praticar o sax. Sobrava algum tempo para namorar também. Mas ela ainda não sabe se o romance irá sobreviver.
- É difícil assim tão longe, né? A gente se fala pela internet, pelo telefone, mas a distãncia pega - justifica.
Saudade mesmo ela sente dos irmãos. O nono está a caminho e a forma de aplacar a falta que eles fazem é voltar em quando á cidade natal. Na hora do aperto, um mimo de mãe acaba abrandando o coração da jovem:
- Minha mãe sempre me manda feijão...
Na produção de "Clandestinos", em que vive uma adolescente que chega ao Rio atrás do amor de sua vida, Adelaide já recebeu o apelido de "mascote". E arranca elogios de todos. Inclusive do próprio João Falcão, que a escolheu entre 3000 candidatos para fazer a oficina que originou o espetáculo.
_ A Adelaide é de uma elegância difícil de encontrar e tem um dos olhares mais expressivos que já vi - diz o diretor.

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